Por Luiza Monticelli, estudante de Ciências Sociais na PUC-SP e militante do Coletivo Graúna.
A pobreza menstrual no Brasil afeta negativamente grande parte da população que menstrua, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade social, que não possuem uma boa qualidade de vida e carecem de conhecimento sobre sua saúde menstrual. Uma das consequências dessa situação é alarmante: muitos adolescentes acabam abandonando seus estudos.
A precariedade menstrual é caracterizada pela falta de acesso a recursos necessários, infraestrutura adequada e conhecimento sobre saúde íntima. Em muitos casos, a compra de itens de higiene menstrual não é uma prioridade para famílias de baixa renda, que precisam se preocupar com alimentação, contas, moradia… entre outros gastos. Além disso, muitas vezes, os itens básicos para o período menstrual têm um custo elevado e a carência de redes de saneamento e serviços hídricos impacta diretamente no dia a dia de pessoas que menstruam e vivem em condições desfavoráveis.
Outro fator que agrava esse problema são os tabus existentes e a escassez de informações básicas sobre saúde menstrual, o que demonstra a negligência e a falta de direitos de grande parte da população. Seguindo essa linha de raciocínio, a dificuldade de acesso a serviços e a pobreza menstrual podem ser fatores que contribuem para o estigma e a discriminação dessas pessoas, frequentemente resultando na evasão escolar.
De modo geral, muitas meninas enfrentam estigmas relacionados à menstruação, com as principais vítimas sendo meninas e mulheres negras, que representam 47% das pessoas afetadas por esse problema, enquanto meninas e mulheres brancas totalizam 32%. Isso afeta a socialização dessas garotas com suas famílias e com as pessoas do seu convívio, refletindo negativamente na vida escolar, o que pode levar ao abandono dos estudos.
De acordo com Astrid Bant, representante do UNFPA (Fundo de População da ONU) no Brasil, a falta de condições sanitárias mínimas para que as pessoas possam gerenciar sua menstruação constitui uma violação dos direitos humanos e afasta o país do cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), como o ODS 3, que trata da saúde e do bem-estar.
Bant disse: “A menstruação é uma condição perfeitamente natural que deve ser mais seriamente encarada pelo poder público e pelas políticas de saúde. Quando não permitimos que uma menina possa passar por esse período de forma adequada, estamos violando sua dignidade. É urgente discutir meios de garantir a saúde menstrual, com a construção de políticas públicas eficazes, com a distribuição gratuita de absorventes, e com uma educação abrangente para que as meninas conheçam seu corpo e compreendam o que acontece durante o ciclo menstrual. Isso é o mínimo que deve ser feito para que ninguém fique para trás.”
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